Um dia feliz começa assim para mim: com uma ideia que nasce e morre em alguns minutos. Normalmente nessas horas eu paro para pensar, como seria triste esquecer um grande ideia. Mas hoje aprendi que grandes ideias não são esquecidas, são amadurecidas e voltam ainda mais fortes.
Uma reflexão que faço constantemente é me comparar. Tanto comigo mesmo, quanto com pessoas que conquistaram grandes desafios e que igualmente almejo alcançar. Afinal, o que faz diferente um ser humano de outro? O que faz diferente um indivíduo mais bem sucedido de outro, em uma determinada população? Essa é a pergunta A.
Parte A:
Analisando diferentes espécies de vida, gosto de começar com os casos extremos: quando inoculamos diferentes pools de isolados virais (uma pequena "coleção de vírus similares"), o que faz um isolado mais virulento (capacidade de estabelecer a infecção e se hospedar no organismo) do que outro? Por que um mesmo vírus pode ser responsável por uma infecção bem sucedida, enquanto outros mal passam através do sistema imune? Na pergunta já reside a resposta, sincronia. É ser o cara certo para o local certo. Uma coisa que o estudo sobre Evolução ensina bem: não existe indivíduo mais evoluído, existe indivíduo melhor adaptado para uma determinada situação.
Parem para pensar um pouco: 24 horas duram o mesmo tempo para todo mundo. Mas o que você anda fazendo nas suas 24 horas? Todas as pessoas do mundo andam fazendo muitas coisas, algumas lutam para sobreviver, se alimentar, beber água limpa; algumas lutam para se enriquecer, construir impérios, influenciar pessoas; algumas lutam para se entendem, conquistar harmonia, atingir um equilíbrio. No fim das 24 horas que cada dia nos guarda, todos estão envolvidos por cada segundo com alguma coisa.
A medida que consigo minhas pequenas conquistas em busca de transformar o mundo, uma maré otimista e ao mesmo tempo receosa me atinge. Será que estou no caminho certo? Por que as coisas que faço deram certo até agora? Por que meus projetos foram para frente? Por que eu me vejo como uma pessoa capaz de compreender muitas coisas, enquanto muitas outras pessoas parecem estarem perdidas e desacreditas?
Várias pessoas me ensinarem como responder essa questão: preparo + oportunidade = sorte. Temos sorte por que fomos preparados para aproveitar as oportunidades que cruzam nossos dias todos os dias. Há anos tenho sido treinado para capturar oportunidades que me levem a melhorar o modo como as coisas acontecem no mundo. Mas e as pessoas que há anos estão sendo preparadas para buscar água há 20 km do local onde vivem todos os dias? E as pessoas que há anos estão sendo preparadas para proteger seus filhos da morte por fome e falta de condições básicas de sobrevivência?
Uma questão interessante que já levantei com um amigo é: o que é mais difícil de se lapidar, o corpo ou a mente? Ser saudável fisicamente é tão difícil quanto ser saudável mentalmente. Pensar, criar, compreender; correr, levantar, suportar; mirar, atingir, acertar; entender, compreender, sensibilizar. Esportes, pessoas, intelectos. Independente de onde você gaste as suas 24 horas você estará apto para resolver situações daquele microambiente ao qual você está se adaptando. É assim que funciona a evolução.
Mas afinal, até onde somos capazes de nos reunir para trabalharmos juntos e moldarmos as condições de maneira que toda a humanidade possa um dia colaborar com a própria humanidade? Como evitar que pessoas dediquem suas 24 horas em situações, que por mais que sejam extremamente difíceis, já foram vencidas por outras pessoas? Como aproveitar a inteligência coletiva da humanidade e levar a igualdade mais longe para que todos possam atingir o mesmo patamar e colaborar para desenvolvimentos de interface? Como desenvolver algo nunca antes criado, e tido até então como impossível, no lugar de se ocupar com o desenvolvimento primário onde as pessoas lutam para sobreviverem, para alimentarem os seus filhos, para impedir que as pessoas que eles amam, morram? Essa é a pergunta B.
Parte B:
O que mais vejo surpreenderem as pessoas é a capacidade ilimitada do ser humano em se adaptar e tomar todas as formas, das melhores às piores possíveis. O ser humano não é muito diferente de todas as outras espécies. Ele também toma as formas mais próximas para poder lutar e sobreviver contra o micro-ambiente que o envolve e o pressiona a evoluir. Ele também se apodera das armas mais razoáveis e próximas que ele pode socorrer.
O que difere um ser humano capaz de um ser humano não capaz é óbvio por definição: a sua capacitação. É o aprendizado que ele consegue capturar ao longo de seus dias de 24 horas.
No Brasil, em 2011 havia 8,5% da população vivendo em famílias com renda inferior à linha de indigência e 15,1% com renda inferior à linha da pobreza. Você achava que você era pobre? Segundo o Banco Mundial, o estabelecido para os critérios de indigência é renda inferior a 30 dólares por mês; quanto a pobreza, é inferior à 60 dólares por mês. Como pensar em melhorar o seu país, em não roubar, em não jogar poluir o ambiente, em ser uma pessoa melhor, em educar o próximo, quando a sua família toda vive com menos de 100 reais por mês? Todos o esforço aí é concentrado em sobreviver e não em desenvolver.
Apenas no Brasil, mais de 30 milhões de pessoas estão impedidas de agir. Mas mesmo assim ainda vemos casos de pessoas saindo do zero até a conquista de uma vida estável para sua família. O que esse cara não faria com 1 milhão na mão? Alguns bilionários brasileiros tem muito mais de mil desses milhões, entretanto, nem sempre algo acontece. Quantas pessoas estão sendo mal aproveitadas todos os dias? Quantas pessoas poderiam estar colaborando para o desenvolvimento de um mundo melhor, mas estão impossibilitadas? Imediatamente me vem a questão: e todo o resto do mundo que tem condições de lutar? Eles estão realmente lutando? O que eles fazem em suas 24 horas de cada dia? Essa é a pergunta C.
Parte C:
Hoje uma coisa me fez pensar bastante. Estava vendo um documentário sobre futebol europeu na ESPN. Era final da Liga dos Campeões, milhões de torcedores saíram de suas casas, cidades, estados e países para irem ver um jogo de futebol. Outros muitos milhões, com certeza, estavam paralisados em suas casas torcendo. Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo estavam dedicando uma parte de suas 24 horas para torcerem e vibrarem por seus times. Muitos deles inclusive saindo de casa e tendo o trabalho de despender diversos recursos (como tempo e dinheiro) para dedicarem uma parte de suas 24 horas in loco.
Esse é um fenômeno que sempre me chamou a atenção. Por que o ser humano dedica tanta parte de sua vida em questões que não levam ao desenvolvimento, mas tendem a fugir de trabalhos que levem ao desenvolvimento direto? Por que é mais fácil encher um estádio com milhões de pessoas do que reunir milhares para uma ação social?
Uma conexão que percebi esses dias é a questão dos jogos de entretenimento voltados para a educação. Cada vez mais jogos educativos são direcionados para convencerem crianças sobre a necessidade do aprendizado. É difícil convencer uma criança a entrar numa sala de aula com um quadro negro e um professor, mas é fácil convencer uma criança a entrar em uma sala de aula virtual em um ambiente totalmente gamificado. A grande jogada está na perspectiva.
O que faz um ser humano melhor do que outro? Como dar condições para que bilhões de pessoas que lutam para sobreviver, possam lutar para transformar o mundo em um lugar mais divertido de se viver? Como convencer as pessoas relativamente já bem posicionadas a colaborarem? Essa deveria ser a pergunta D. Mas nesse caso, D = A + B + C; ou seja, D deverá ser a nossa resposta.
Parte D:
Todas as pessoas do mundo tem algo a oferecer, tudo o que elas precisam é de oportunidade. Cada pessoa do mundo passou suas 24 horas fazendo algo diferente em um lugar diferente de você. E nada gera mais oportunidade do que uma conexão bem feita. Conectar aquele que precisa com aquele que pode. Afinal, como melhorar o mundo? Como conectar pessoas que podem oferecer, com pessoas que precisam receber?
O maior desperdício do mundo é um ser humano passar fome e sede. Um ser humano deve ter fome e sede de mudanças, de conhecimento, de situações que apenas o ser humano com seu elevado nível de consciência e visão poderia atingir. Uma pessoa bem treinada sempre será responsável por levantar mais recursos do que consome, desde que seja capacitada para isso. Desde que seja ensinada.
Todas essas ideias me fizeram pensar muito em duas coisas: é preciso convencer as pessoas a ensinarem mais; é preciso dar oportunidade para as pessoas a aprenderem mais. É preciso, sobretudo, reduzir a dificuldade que essas duas coisas possam ter em acontecer. Enquanto milhões de pessoas morrem, outras milhões "jogam fora" suas 24 horas com atividades pouco relevantes para que aja alguma transformação.
Tenho uma teoria que gosto de chamar de Teoria da Base Estruturante. Considero que qualquer coisa, por mais desnecessária ou negativa que pareça, tenha um motivo necessário e positivo para existir. Quanto maior for esse motivo necessário e positivo, maior será a quantidade de motivos desnecessários e negativos que essa base estruturante pode suportar. O que impossibilita o ser humano de viver em função de desenvolver em todas as suas 24 horas do dia atitudes transformadoras é basicamente a falta de ferramentas e possibilidades. De fato, viver sobre essa responsabilidade constante é um estresse que praticamente nenhuma pessoa foi capacitada para suportar. As pessoas precisam de entretenimento para continuarem a dedicarem uma parte de suas 24 horas para algum lugar transformador.
Sempre que caiu nesse dilema entre ter de escolher, a primeira pergunta que faço é: mas eu não quero escolher, eu quero as duas coisas, como unir tudo em uma coisa só?
Hoje acredito que a grande questão em transformar o mundo não seja ter uma grande sacada, uma grande ideia ou descobrir algo que ninguém percebeu. Todas as pessoas tem grandes sacadas, ideias e percepções novas todos os dias, entretanto elas não estão sincronizadas. Elas não foram direcionadas e preparadas, mas todas tem algo a ensinar e facilmente doaram uma parte de suas 24 horas para isso; entretanto elas querem continuar a terem a chance de fazerem todas as atividades que elas necessitam fazer para estruturarem suas bases, seja por meio de entretenimento ou qualquer outra atitude, mesmo que pareça inútil na transformação do mundo em algo melhor - mas na verdade é o que renova as forças, sendo parte essencial do ciclo.
Como unir a capacidade de transformar com a capacidade de reunir forças? Duas coisas que cada vez se tornam mais próximas para mim: educação e entretenimento. E a proximidade entre elas cresce a medida que a tecnologia avança, proporcionando que coisas distantes estejam cada vez mais próximas, diminuindo a energia necessária para ativar um processo antes muito caro: sair de casa, ir para a vida e ensinar. A chave da transformação está na capacitação, no ensino, na educação, no conhecimento coletivo; basicamente, em não perder tempo reinventando a roda - agir como um grupo só e não como uma coleção de indivíduos isolados.
Os jogos estão presentas na humanidade desde que existem registros sobre ela. A cultura do gamer (jogador) vem se expandindo cada vez mais e parece ser uma coisa intrínseca do ser humano: o desafio de tentar e conseguir é a maior recompensa que podemos ter, e os games (jogos) trazem isso a tona de uma maneira muito simples; é possível tentar e conseguir diversas missões em um game em poucas horas, sem sair de casa.
Mas e se essas missões fossem missões para "salvar" o mundo? E se no lugar de levels e gold (desenvolvimento do personagem) você juntasse pessoas capazes (desenvolvimento da realidade)? Os gamers entendem muito bem de um conceito, amplamente utilizado em vários deles, quando os programadores que deram origem às regras do jogo permitem: o rush. O rush é uma ideia onde um jogador muito experiente conduz um jogador iniciante por todas as etapas básicas iniciais, de maneira extremamente acelerada e só possível graças a ação do jogador mais experiente. Os gamers entenderam que o começo do jogo só serve para o aprendizado inicial, e que a maior parte da diversão começa após essa aprendizagem; a maior parte da diversão se concentra nos grandes desafios, onde todos precisam saber jogar e estarem alinhados para conquistarem.
Mas e se o conceito de games fosse aplicado à educação? E se as pessoas pudessem cumprir pequenas missões, desafios ou "quests" todos os dias em seus jogos que deixaram de serem virtuais e começaram a serem jogados na própria sociedade? E se no lugar de matar um dragão, você matasse a fome de uma comunidade faminta em um país de extrema pobreza? Será que alguma pessoa me diria que não se sentiria igualmente satisfeita ao ver uma missão dessas concluída? Muitos gastam boa parte do seu dia de 24 horas jogando games com missões virtuais e se divertem muito com isso, se sentem realizados após cada dia conquistarem uma missão nova - mas e se essas missões fossem missões da vida?
Gamificar a ação social. Uma proposta onde todas as pessoas poderão ser aproveitadas e se sentirem gratas por realizarem desafios todos os dias. O desafio de ensinar alguém a ensinar o próximo. O desafio de aprender algo que é preciso. O desafio de transferir o conhecimento que ainda não chegou lá. O grande problema está em trabalhar esse reconhecimento - o reconhecimento de missão dada, missão cumprida. Cada um colaborando com pequenas missões, onde todas juntas poderão transformar toda uma comunidade local, assim como os gamers fazem: vamos rushars (acelerar) os new players (novos jogadores).
Tudo que resta é construir esse jogo da vida. O jogo da vida da educação. Compreender os segredos por trás da psicologia da gamificação.
É hora de começar as conexões e ligar as pessoas.
It's time to link right now. (;
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