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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O que o Genoma Humano e a IBM tem em comum - o maior segredo do universo

O Maior Espetáculo da Terra
Um dos maiores desafios da ciência em relação à humanidade está compreendido no estudo da vida e sua origem. Estima-se que as primeiras moléculas que deram origem à vida terrestre tenham sido formadas após o resfriamento do planeta e o surgimento dos primeiros oceanos, possibilitando a formação de diversos componentes químicos em uma mistura chamada de Sopa primordial.

O prólogo se resume mais ou menos assim:
O universo tinha 9.0 Ga. Uma estrela antiga e carregada de metais pesados estava começando a acumular mais matéria do que era capaz de suportar. Essa estrela entra em colapso e explode. O resultado dessa explosão, chamado de supernova, colide com uma nuvem de gás gigantesca composta principalmente por hélio e hidrogênio. A supernova foi ingrediente suficiente para a Terra e todo o Sistema Solar; a nuvem de gás foi comprimida durante milhões de anos e após atingir a pressão e temperatura necessária para a fusão do hidrogênio, se tornou uma estrela e mais tarde denominada como Sol.
Ga é a unidade para gigaannum, medida de tempo que representa 10 anos - ou um bilhão de anos. E é no período de 4.4-3.5 Ga atrás que começa a nossa história. Nesse período compreendido em um bilhão de anos a vida se ocupou em aprender duas coisas principais: primeiro, fazer cópias dela mesma; segundo, transformar informação de código bidimensional em um mecanismo de ação tridimensional.
Se visitássemos a vida no tempo zero, iríamos conhecer um "cara" peculiar: o primeiro replicador do universo. O primeiro replicador do universo não era lá muito precavido. Apesar de ter levado milhões de anos na Sopa primordial para desenvolver a tecnologia de replicação, não foi capaz de protegê-la e em questão de tempo outras moléculas se originaram a partir dele, gerando cópias com abordagens semelhantes e desenvolvidas através de mutações. A replicação é a tecnologia fundamental para a vida, mas como nessa época ainda era muito pouco avançada, esse período ficou conhecido como mundo pré-biótico.
Para romper com a baixa tecnologia de replicação vigente, surgiram algumas moléculas maiores e mais avançadas - as macromoléculas de RNA. O mundo do RNA foi marcado pelo primeiro sistema complexo de replicação. Graças ao desenvolvimento do processo de catálise química, novas reações foram possibilitadas e algumas reações antigas agora eram feitas em velocidades milhares de vezes superiores. Com esse novo processo foi possível construir arranjos ainda maiores, conhecidos como polímeros, que com o aumento de seu tamanho e complexidade foram capazes de se estruturar tridimensionalmente, contorcendo sua estrutura sobre ela mesma, se dobrando como em um origami japonês. Esses origamis foram os precursores das proteínas e pela primeira vez se reuniu em um sistema molecular as tecnologias e processos necessários para a replicação, catálise e multiplicação. É e nesse momento que iremos conhecer um outro "cara" ainda mais especial, que de tão especial adquiriu um nome próprio. Conheça o LUCA, the Last Universal Common Ancestral.
Como havia dito anteriormente, nossa história começa em um período de um bilhão de anos, compreendido entre 4.4 Ga e 3.5 Ga. No início dessa história conhecemos o primeiro replicador no universo e posteriormente conhecemos LUCA - o último ancestral comum. LUCA pode ter encerrado sua entrada de maneira breve, entretanto sua apresentação repercute até os dias de hoje. O elo reside no fim dessa história, no fóssil do organismo celular mais antigo já encontrado - a primeira cianobactéria encontrada em rochas de 3.5 Ga atrás.

Essa é a história da origem da vida[1] - o "day one" da natureza que por 4 bilhões de anos, através de um mecanismo de ação e gestão de conhecimento único, foi capaz de captar, armazenar e desdobrar informação, gerando tecnologias e processos que garantissem sua sobrevivência no mercado das substâncias.

É de se esperar então que no maior banco de dados do mundo resida uma grande parte das respostas do universo.

Deus ou Natureza
Alguns bilhões de anos depois, e no início de 2002 deixava de circular pelos bolsos holandeses o retrato do filósofo Baruch Spinoza, estampado nas notas de mil florins. Spinoza que nascera no século XVII, em um ambiente de tantas secessões e guerras, dificilmente poderia imaginar que o Euro unificaria todo o padrão monetário europeu. Entretanto Spinoza já desenvolvia um padrão de unificação muito maior, entre corpo e mente, natureza e espírito.

Spinoza acreditava na existência de uma única e infinita substância. Em sua teoria conhecida como Deus sive Natura[2], levantava que tanto Deus quanto Natureza eram diferentes modos para a mesma substância, ou seja, diferentes nomes para a mesma realidade. A teoria de Spinoza se baseava na premissa da unificação de diferentes realidades. E é nessa mesma premissa que se baseiam as analogias a seguir.

Se queres entender o futuro, estudas o passado
Assim como altos executivos estudam grandes generais militares para a formulação de suas estratégias, inspirar-se na história dos seres vivos e nos seus mecanismos singulares de ação e coordenação, pode ser uma fonte ilimitada de insights criativos para a resolução de problemas e criação de propostas.


O deslocamento de conceitos em analogias e metáforas podem transformar ideias de maneira a solucionar questões administrativas e de gestão. Em um histórico de 4 bilhões de anos, estima-se que 9 milhões de conjuntos de estratégias co-existam como vitoriosos e sustentáveis no ambiente atual. Cada estratégia representa uma espécie de ser vivo.

Diferentes situações biológicas podem ilustrar estratégias capazes de serem aplicadas nos mais distintos problemas. A regra regal da evolução é: diferentes estratégias para diferentes ambientes e personagens. Observar como cada uma dessas estratégias evoluiu durante toda a sua história e a que ponto ela chegou muitas vezes pode originar a melhor resposta possível para uma ocasião.

Algumas estratégias acompanharam a vida durante bilhões de anos, outras estão presentes na maioria das espécies. De fato, o código genético da vida é o banco de informação sobre erros e acertos mais antigo do mundo. E para se obter respostas, basta fazer as perguntas certas.

Cultura da inovação e pensamento organizacional

É tido como senso comum que a elevada capacidade intelectual humana está relacionada com o tamanho de seu cérebro. Entretanto, espécies de inteligência consideravelmente proporcional como orangotangos


Apesar de que equivocadamente associamos a elevada capacidade intelectual humana com o tamanho de seu cérebro, as condições que geraram



Uma grande ideia em uma pequena empresa, vale mais do que uma pequena ideia em uma grande empresa. Tamanho não reflete capacidade de ação, da mesma forma que um maior tamanho de cérebro não reflete real aumento do nível intelectual.


Tamanho de cérebro não reflete real aumento de complexidade. Diferentes animais com inteligência proporcional (orangotangos, golfinhos, cachorros) tem tamanhos de cérebros diferentes e com pesos diferentes.

Tudo somente ocorre nessa complexidade pelo imenso número de ferramentas que desenvolvemos, um refinado sistema de co-evolução transmissor/receptor - ou homem/máquina - aperfeiçoando a transmissão de informações, o modo como os processos são feitos e as moléculas responsáveis pelo processo.

Orientação por processos e informações - não se perde informação valiosa
Sendo específico, é na sinapse onde ocorre realmente o processo de transferência de comunicação - ou melhor dizendo, onde rola a festa dos neurotransmissores. O trânsito de informações ocorre de acordo com a liberação de neurotransmissores do lado de dentro de um neurônio A para a sinapse de interface entre um neurônio B - ou para um conjunto de neurônio no caso de sinapses múltiplas. Quando o neurotransmissor é liberado para fenda sináptica (o local da festa), ele pode entrar em contato com receptores por meio de ligações específicas para cada um deles.

Na próxima vez que precisar de um especialista em comunicações, pergunte aos sistemas nervosos, eles têm feito isso com excelência a 100 milhões de anos - desde a chegada de um tal de neo-córtex.

Aprendizado Organizacional - as melhores ideias vencem
Então qual é a ideia? A ideia é aprender e se modelar, ou seja, crescimento neural e plasticidade neural. A inteligência mais refinada e com maior vantagem adaptativa está na capacidade de organizar e reunir as coisas certas e das formas certas. Você pode ter cérebros menores e mais leves pensando melhor do que cérebros grandes e pesados. A resposta estaria na capacidade de "liderança" e "trabalho em equipe" de moléculas, macromoléculas, células e tecidos se organizando em diferentes níveis, agindo e sabendo reconhecer o ambiente propondo ações das melhores possíveis e de maneira sustentável e estratégica.

O cérebro humano cresce em ritmo acelerado até os 12 anos, onde formula uma série de novas conexões entre os neurônios. Durante todo esse período de adaptação ao mundo, a criança aprende em ritmo acelerado.
O cérebro nasce com macro-estrutura pronta, entretanto ele é modelado de maneira mais fina de acordo com os primeiros anos de vida. Vale a pena uma associação com a ideia de trainees aí? Acho que sim.

Pensamento sistêmico - nem tudo é o que parece, questione e observe tudo
Diversos aspectos são levados em conta e as vezes considerados como quase que exclusivos para o aparente sucesso da espécie humana. Alguns podem dizer sobre a utilização do fogo para eliminar microorganismos patogênicos ou para facilitar a digestão e melhorar a produtividade da absorção de nutrientes pelo aparelho digestivo outros se refeririam ao excelente conjunto cognitivo humano.

De fato, não existe MELHOR estratégia evolutiva e sim estratégia melhor adaptada a determinados ambientes.

Alguns microorganismos existem em muitas vezes maior número que seres humanos e eles podem viver desde soluções extremamente ácidas até em vulcões ou no gelo, além de dentro de animais e até mesmo dentro de outros microorganismos. Marketing viral, alguém?

Saber onde está e o que é, pode ser o começo para a maioria das coisas.

Inovações disruptivas fora do core business - grandes apostas com grandes riscos são perigosas
A grande sacada é que o conjunto de nossos genes, todo o genoma humano, são as leias que nos governam e os pressupostos que devemos utilizar; eles são extensos, complexos e difíceis de se modificar sem romper o equilíbrio da base - entre outras palavras, são pouco dinâmicos. Os genes são nosso core business, o resultado daquilo que fazemos de melhor durante milhões de anos - adaptação evolutiva. São o que dão sustento ao nosso corpo material e nos possibilita existir com essa enorme capacidade de ação que o ser humano tem.
Como saber se vale a pena então envolver grandes recursos - biológicos ou financeiros - para construir uma ferramenta - ou modelo - que proporcione ao indivíduo - ou empresa - uma forma nova de agir?

E se o pato, muito esperto ao pensar nos seus pés, percebesse que a perda de estabilidade terrestre não compensasse o ganho de velocidade aquático? Talvez seja melhor passar alguns milhares de anos nadando até achar a melhor forma de nadar com os pés. Não é a toa que os pés de pato fazem sucesso para os humanos, eles trabalharam nisso durante anos e mereceram o sucesso.

Inovação com ativação de fora para dentro no genoma humano Ou o que neo-darwinismo e a IBM tem em comum
Na resposta dessa pergunta é que entra onde somos bons em inovar. Nossas start-ups (ou spin-offs). Os papos mais recentes sobre evolucionismo descrevem um novo padrão de transferência de informação entre gerações chamado meme. Os memes são unidades análogas aos genes, mas no lugar de formarem um genoma, eles formam uma cultura. A cultura tem íntima relação com a memória e a modulação do cérebro nos primeiros momentos da vida. A cultura é dinâmica e pode ser modifica no passar de gerações. São esses caras, os memes, os responsáveis pelas maneira como aprendemos as coisas após nascer.

É quase como se falássemos que nosso genoma está protegido das inovações disruptivas - somente alcançadas na cultura - e que para modificar nossa biologia - o nosso core business - dependêssemos de diversas inovações incrementais acumuladas ao longo do tempo.

Os memes são os ativadores dos processos de inovação radical do genoma. Como nosso genoma deve se manter muito bem concentrado em fazer nosso corpo funcionar, tratar de novas oportunidades pode ser uma distração que ao evitada, também evita riscos. Por isso eles "contratam" os memes para fazer isso, já que eles vivem em maior contato com o ambiente por serem fatores culturais.

Um exemplo muito bom é o caso dos EBOs (Emerging Business Opportunities) da IBM [7], onde as inovações disruptivas são realizadas em modelos similares a spin-offs corporativos que geram start-ups geridas como processos externos à IBM, mas que seleciona as propostas mais promissoras e um executivo bem sucedido na empresas é indicado para executar. Os novos negócios da IBM surgem com muito diálogo com o meio externo. Enquanto isso a IBM se mantém focada no seu core business. Evitando possíveis ameaças e riscos de mercados emergentes.

Kotler, em seu modelo de A-F para inovação [8], pontuaria esse sistema utilizado pelos memes e genes como um sistema de inovação com ativação de fora para dentro. Nosso core business está protegido (genes), porque não podemos arriscar nosso "corpo estrutural" com modificações com resultados não totalmente previsíveis, o que leva ao nosso genoma não ter capacidade de enxergar bem o ambiente externo (necessidades do mercado). 

Natureza ou administração?
(;




Referências:
[1] How life began on Earth: a status report - Jeffrey L. Bada
[3] Spinoza and Spinozism - Stuart Hampshire
[4] Molecular Biology of the Cell - Bruce Alberts et al.
[5] Lehninger - Principles of Biochemistry - Nelson and Cox
[7] Emerging Business Opportunities at IBM - J. Bruce Harreld
[8]Winning at Innovation - Fernando Trías de Bes, Philip Kotler

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