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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Inovação vs Evolução - Parte I

O Maior Espetáculo da Terra
Um dos maiores desafios da ciência em relação à humanidade está compreendido no estudo da vida e sua origem. Estima-se que as primeiras moléculas que deram origem à vida terrestre tenham sido formadas após o resfriamento do planeta e o surgimento dos primeiros oceanos, possibilitando a formação de diversos componentes químicos em uma mistura chamada de Sopa primordial.

O prólogo se resume mais ou menos assim:
O universo tinha 9.0 Ga. Uma estrela antiga e carregada de metais pesados estava começando a acumular mais matéria do que era capaz de suportar. Essa estrela entra em colapso e explode. O resultado dessa explosão, chamado de supernova, colide com uma nuvem de gás gigantesca composta principalmente por hélio e hidrogênio. A supernova foi ingrediente suficiente para a Terra e todo o Sistema Solar; a nuvem de gás foi comprimida durante milhões de anos e após atingir a pressão e temperatura necessária para a fusão do hidrogênio, se tornou uma estrela e mais tarde ficou conhecida como Sol.
Ga é a unidade para gigaannum, medida de tempo que representa 10 anos - ou um bilhão de anos. E é no período de 4.4-3.5 Ga atrás que começa a nossa história. Nesse período compreendido em um bilhão de anos a vida se ocupou em aprender duas coisas principais: primeiro, fazer cópias dela mesma; segundo, transformar informação de código bidimensional em um mecanismo de ação tridimensional.
Se visitássemos a vida no tempo zero iríamos conhecer um "cara" peculiar: o primeiro replicador do universo. O primeiro replicador do universo não era lá muito precavido. Apesar de ter levado milhões de anos na Sopa primordial para desenvolver a tecnologia de replicação, não foi capaz de protegê-la e em questão de tempo outras moléculas copiaram seu modelo de negócio gerando cópias com abordagens semelhantes, ligeiramente modificadas através da aplicação de ideias boas e ruins, em um modelo de erro e acerto chamado de mutação. A replicação foi a primeira inovação tecnológica da vida, mas como nessa época ainda era muito pouco avançada, esse período ficou conhecido como mundo pré-biótico.
Nesse período a mortalidade dos novos replicadores era muito alta. Novos replicadores apareciam e quebravam o tempo todo. Até que o acúmulo de mutações possibilitou que pequenas inovações incrementais fossem bem-sucedidas e reunidas. Essas inovações de processo foram as principais responsáveis para que a tecnologia de replicação trabalhasse em melhor sincronia com a tecnologia da catálise química, terceirizada através de outras moléculas que muitas vezes não entendiam nada de replicação, mas detinham todo o expertise de cortar custos e acelerar projetos. Graças a contratação desses serviços novas formas de reação surgiram. Reações que até então eram impossíveis devido ao seu custo elevado ou alto tempo de execução agora eram possíveis. Novas estruturas maiores começaram a ser formadas, utilizando desde 20 até 100 unidades moleculares para sua construção. Essas moléculas maiores foram chamadas de polímeros.
Os primeiros polímeros nada mais eram que diferentes conjuntos de moléculas que sobreviveram a primeira fase da tecnologia da replicação e que agora trabalhavam em conjunto. Na era da replicação 2.0 e com o súbito crescimento das moléculas, foi possível que os replicadores não mais terceirizassem a tecnologia de catálise e sim que a incorporassem. Pela primeira vez uma mesma molécula era capaz tanto de se replicar quanto de catalisar reações. A incorporação do processo de catálise foi uma inovação de modelo de negócios que causou ruptura com o modelo vigente e possibilitou que um produto totalmente novo fosse desenvolvido para ser lançado no mercado molecular: as macromoléculas de ácidos ribonucleicos, também conhecidas como RNAs.
O mundo do RNA foi marcado pelo lançamento da primeira macromolécula capaz de dirigir os processos de replicação, catálise e multiplicação de maneira simultânea. Os polímeros antes organizados em estruturas de orientação bidimensional agora se emaranhavam e se dobravam, estrutura sobre estrutura - quase que como um origami molecular - adquirindo uma conformação tridimensional muito mais eficaz do que a antiga e capaz de processar múltiplas atividades coordenadas em sítios distintos. 
Essa inovação de produto posteriormente deu origem às proteínas e toda a base molecular da vida. E é nesse momento que iremos conhecer um outro "cara" ainda mais especial, que de tão especial adquiriu um nome próprio. Conheça o LUCA, the Last Universal Common Ancestral. LUCA é considerado a forma de vida mais antiga e primitiva possível.
Como havia dito anteriormente, nossa história começa em um período de um bilhão de anos, compreendido entre 4.4 Ga e 3.5 Ga. No início dessa história conhecemos o primeiro replicador no universo e posteriormente conhecemos LUCA - o último ancestral comum. LUCA pode ter encerrado sua entrada de maneira breve, entretanto sua apresentação repercute até os dias de hoje. O elo reside no fim dessa história, no fóssil do organismo celular mais antigo já encontrado - a primeira cianobactéria fossilizada em rochas de 3.5 Ga atrás.
Essa é a história da origem da vida - o "day one" da natureza que por 4 bilhões de anos, através de um mecanismo de ação e gestão de conhecimento único, foi capaz de captar, armazenar e desdobrar informação, gerando tecnologias e processos que garantissem sua sobrevivência no mercado das substâncias.

Deus ou Natureza
Alguns bilhões de anos depois, no início de 2002, deixava de circular pelos bolsos holandeses o retrato do filósofo Baruch Spinoza, estampado nas notas de mil florins. Spinoza que nascera no século XVII, em um ambiente de tantas secessões e guerras, dificilmente poderia imaginar que o Euro unificaria todo o padrão monetário europeu. Entretanto Spinoza já desenvolvia um padrão de unificação muito maior, entre corpo e mente, natureza e espírito.

Spinoza acreditava na existência de uma única e infinita substância. Em sua teoria conhecida como Deus sive Natura, levantava que tanto Deus quanto Natureza eram diferentes modos para a mesma substância, ou seja, diferentes nomes para a mesma realidade. A teoria de Spinoza se baseava na premissa da unificação de diferentes realidades.

É nesse gancho histórico-filosófico de integração do conhecimento e unificação das verdades que minha argumentação se encerra ancorada. É de se esperar então que no maior banco de dados da vida resida uma grande parte das respostas do universo. Nesse banco de dados podemos propor um imenso volume de prospecções criativas, através de analogias e metáforas deslocadas da biologia para a administração (ou qualquer outra ciência).

Se queres entender o futuro, estudas o passado
Assim como altos executivos estudam grandes generais militares para a formulação de suas estratégias, inspirar-se na história dos seres vivos e nos seus mecanismos singulares de ação e coordenação, pode ser uma fonte ilimitada de insights criativos para a resolução de problemas e criação de propostas. Em um histórico de 4 bilhões de anos, estima-se que 9 milhões de conjuntos de estratégias coexistam como vitoriosos e sustentáveis no ambiente atual. Cada estratégia representa uma espécie de ser vivo.

Diferentes situações biológicas podem ilustrar diferentes estratégias capazes de serem aplicadas nos mais distintos problemas. A regra geral da evolução é: diferentes estratégias para diferentes momentos. Observar como cada uma dessas estratégias se originou, evoluiu durante toda a sua história e a que ponto ela chegou pode revelar estudos de casos de bilhões de anos de histórico. De fato, o código genético da vida é o banco de informação sobre erros e acertos mais antigo do mundo. E para se obter as respostas certas, basta fazer as perguntas certas!

Parafraseando Baruch Spinoza, Natureza ou Administração?

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