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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Jamais se esqueça sobre o que você foi buscar

Nunca esqueça do seu verdadeiro sonho.
Pensando sobre uma coisa: as vezes vamos até a geladeira e quando a abrimos esquecemos o que realmente fomos pegar. Okay. Um pouco de método científico é suficiente para aceitar que o estímulo de abrir a geladeira pode nem ser desencadeado pela vontade de buscar algo e por isso é que, talvez, não nós recordamos do que fomos buscar ao chegarmos lá. Talvez tenhamos nos engajado em uma busca sem ao menos ter o que buscar. Talvez apenas esquecemos o que fomos buscar devido a alguma distração no caminho.

É comum que muitas buscas necessitem de tantos detalhes, tantas aprendizagens, tantas divergências e re-convergências que cedo ou tarde você pode acabar se esquecendo do motivo real dessa busca. Afinal, em alguns momentos é necessária total ou quase total concentração em uma nova aprendizagem, ou em uma busca menor dentro daquela busca maior. Sem esse foco a busca poderia empacar ali mesmo e jamais vencer algum grande desafio.

Gosto sempre de lembrar dos meus sonhos quando criança. Imagino que quando sonhamos como crianças, sonhamos com nossas aspirações ainda sem nenhuma limitações imposta. Um sonho de criança é um sonho intacto. Pessoas adultas já se chocaram em tantos problemas e impossibilidades que o sonho de adulto é um sonho deformado.

Já com uns 7 ou 8 anos meu sonho era ser um cientista. Me lembro exatamente da minha coleção da Abril "Jovem Cientista" de capa dura branca e do meu "Livro dos Porquês". Eu enchia tanto o saco dos meus pais e familiares perguntando sobre tudo, que resolveram me dar esse livro. Ainda me lembro que a única professora que visitei em sua casa foi minha professora de ciências do ensino básico. Fico pensando se tive uma ótima professora que conseguiu me influenciar e me deixar apaixonado com ciências ou se já era um caminho independente. De qualquer forma, meu sonho em ser cientista e minha curiosidade inexplicável me levaram a querer entender a mente humana e os mecanismos da vida. Queria participar da primeira equipe responsável pela criação de um organismo cibernético controlado por inteligencia artificial. Foi ai que conheci o Blue Brain Project, iniciado em março de 2005. Em março de 2007 comecei minha vida universitária.

Talvez encontrar o que eu realmente queria fazer fosse um indicativo que eu estava bem alocado. Maior erro. Minha primeira difícil escolha se consistiu em qual abordagem eu queria dominar: psicológica, biológica ou de engenharia. Dentre as dezenas de cursos de graduação que gostaria de tentar, escolhi principalmente três: psicologia, engenharia de computação e bioquímica. Estudando mais sobre os cursos, descobri na Bioquímica a graduação mais multidisciplinar do Brasil. Resolvi me mudar para Viçosa e estudar matemática, física, biologia, química e bioquímica na graduação.

Bem, o que alguns professores puderam experimentar desde cedo é que eu não ia me sossegar jamais e com isso acabaria tirando o sossego de alguns deles. Desde as primeiras aulas conversei com todas as pessoas que passavam na minha frente, eu queria estudar neurobótica, cibernética e inteligência artificial. Eu queria fazer um estágio em pesquisa na UFV e queria que algum deles me ajudasse.

Foi que um dia recebi um convite de uma pessoa que imagino que será minha orientadora para sempre. Talvez não mais na graduação ou iniciação científica, mas nas minhas decisões e conversas quando estou perdido e ninguém consegue me ajudar. Fui convidado a trabalhar com Bioinformática e uma vez que eu havia descoberto que não existiam pessoas para me ajudar a aprender sobre neurobótica e cibernética, bioinformática parecia suficiente - afinal pelo menos já poderia aprender mais sobre a interface computação e biologia. Enquanto eu pensava se devia me transferir para Unicamp ou tentar estudar no MIT, decidi aproveitar o que a UFV poderia me oferecer: treinamento excelente em um dos maiores centros de pesquisa agropecuários do Brasil.

Como era de se esperar, a bioinformática tinha sido apenas um gancho, entretanto, ao invés de me lançar para áreas mais avançadas do tema, acabei me voltando para a área de saúde animal, vacinas e nanotecnologia aplicada. Trabalhei com vírus mutantes e nanotecnologias de perigos ainda desconhecidos, mas que na verdade eram novos protótipos vacinais sendo desenvolvidos. Em um ano consegui ganhar o melhor trabalho de iniciação científica da UFV e recebi um prêmio chamado Prêmio Artur Bernardes - mérito em pesquisa. Foi legal, afinal, era um prêmio com o nome de um ex-presidente brasileiro e fundador da escola que originaria a UFV há 86 anos atrás. Mas talvez isso não tenha significado muito. Eu queria mesmo era que minha pesquisa gerasse impacto e transformações no mundo real. Eu queria criar algo novo, disruptivo e que não levasse mais de 10 anos para ser desenvolvido e aprovado pelas agências de vigilâncias sanitários, biotecnológicas, comitês éticos, agências de fomento, revistas para publicação de periódicos. Eu tinha medo que passasse anos trabalhando em uma tese que apenas minha orientadora fosse ler.

Foi aí que descobri na inovação uma maneira de praticar ciência fora do laboratório e no empreendedorismo uma forma de fazer acontecer o que eu queria que acontecesse. Sem esperar. Sem das coisas aconteceram por conta própria.

Esse é o começo de uma história, mas esse começo nunca poderá ser esquecido.

Se me avisassem com 7 anos que eu jamais seria um cientista, seria eternamente infeliz e imediatamente começaria a chorar muito (sério! hahaha). Talvez essa seja a minha essência: descobrir e criar.

Jamais se esqueça o que você foi buscar
Se pergunte com frequência: aonde você está e para onde você está indo?
(;

("Kino... Para onde você está indo?")

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