Estava lendo um livro da autora Lígia Fascioni chamado Design Desmodrômico. Ainda no início do livro, a autora relata que em uma busca no Google, em Janeiro de 2012, foram encontrados 1.8 milhões de resultados utilizando os termos design + sofistificado. Tal constatação era uma ilustração para a observação que muitas pessoas frequentemente acoplavam o conceito de design ao adjetivo sofisticado, como se fossem automaticamente ideias interligadas.
Meu primeiro ímpeto de curiosidade foi ao pensar: será que essa é uma tendência real? Achei muito interessante a utilização de dados de uma busca no Google para refletir uma tendência recente; eu mesmo adorava usar esse mecanismo frequentemente. Mas assim como toda pesquisa, somos vítimas de falsos negativos e falsos positivos diversas vezes. E no mal hábito da curiosidade, qualquer pergunta se torna uma missão.
Fazendo uma busca no Google com os termos design e sofisticado, retornaram mais de 3 milhões de resultados. Parecia então uma tendência real, mas imediatamente pensei em problemáticas que poderiam falsear minha conclusão. Falsear sua própria conclusão é o mínimo que você pode fazer para começar a obter teorias realmente valiosas a partir de dados.
Será que eu havia feito a busca com os exatos termos, operadores e opções avançadas utilizadas pela autora? Será que o Google poderia ter expandido o seu banco de dados para indexar resultados antigos e não para anexar resultados novos? Será que as pessoas estavam associando cada vez mais o conceito de design ao adjetivo sofisticado?
O jeito mais fácil seria apelar para o Google Trends, que analisa o fluxo de buscas feitas pelo Google em relação ao tempo e à região geográfica. Para minha infelicidade, as palavras design e sofisticado não promoveram volume de busca suficiente no Google para serem analisadas pelo Trends.
Tal resultado me deixou curioso novamente, se sofisticado não retornava um fluxo de buscas alto acompanhando design, quais outras palavras estariam? Essa eu tinha certeza que o Trends iria me responder com facilidade. Desde 2012, as palavras que mais foram utilizadas em buscas junto de design foram, respectivamente: in, interior, web, graphic e home.
O Google Trends sempre foi um playground para mim desde que o descobri. Adoro brincar lá quando tenho alguma curiosidade. Fico maravilhado como existe informação disponível na web.
Uma coisa legal do Trends é que podemos saber os locais onde os termos são mais buscados. E o local do mundo que mais se busca sobre design desde 2012 no Google(*) é a Botswana. Um país que eu não tinha a menor noção de onde ficava.
Jogo rápido no Google, Botswana fica na África, bem acima da África do Sul, entre Namibia (à esquerda) e Zimbabwe (à direita). Lá eles falam inglês como língua oficial, o que justifica, em partes, o fluxo de busca em uma palavra de origem inglesa.
Tentando descobrir mais sobre Botswana, fui procurar algumas estatísticas e me surpreendi com o número de habitantes do país. Apenas 2 milhões de pessoas? Parecia um país razoavelmente grande quando havia olhado no mapa da África. Entretanto, Botswana havia sido o país com uma das menores expectativas de vida do planeta por alguns anos; a densidade demográfica era de 3 hab/km²; e cerca de 85% do território do país fica no deserto de Kalahari, local de secas extremas que duram anos.
Como Botswana pode ter movimentado o maior fluxo de buscas sobre design no último ano, então? Um país onde aparentemente 30% da sua população vive abaixo da linha da pobreza. Queria tentar compreender porque buscavam tanto sobre essa palavra. Acessando o Google de Botswana (google.co.bw) consegui alguns resultado mais fáceis.
Encontrei a Universidade de Botswana, que tinha seu próprio Departamento de Design Industrial e Tecnológico oferecendo disciplinas que iam desde "Animais como Fatores no Design de Produtos" e "Design para Ambientes Rurais" até "Teoria de Design Thinking" e projetos de uso de Impressoras 3D para construção rápida de protótipos.
Uma coisa que havia me chamado a atenção para a busca no Trends com a palavra design era que o fluxo de Botswana se concentrava totalmente na cidade de Gaborone, capital do país. Tal constatação era muito comum no Trends, uma vez que ele só pegava volumes maiores de buscas. Em alguns países com menor acesso à Internet pela população, apenas as capitais dispunham de um fluxo razoável para entrarem na contabilização. Mas foi aí que encontrei minha resposta: a Universidade de Botswana iria sediar uma Conferencia Internacional de Design chamada Gaborone International Design Conference (GIDEC). Gaborone além de capital de Botswana, era ao mesmo tempo, fonte do fluxo da busca no Google o local onde seria realizada a GIDEC.
Em uma revisão das Datas Importantes do GIDEC, percebi que as divulgações online do evento começaram em 2012. A Conferência tinha como objetivo criar um ambiente de debate entre pesquisadores, acadêmicos e praticantes de todas as áreas de Design para examinarem novos caminhos para a geração de Inovação Sociais e Desenvolvimento sob uma perspectiva Africana e, principalmente, através do Design Thinking. A Conferência irá acontecer no segundo semestre de 2013 e parece ter movimentado bastante a busca por informação de pessoas pelo assunto design em geral. O súbito interesse pelo tema e a realização dessa Conferência representam parte de um mix de fatores que compõem uma tendência e que mutuamente justificam suas existências.
Voltando no Trends para cruzar mais algumas informações, percebi que realmente, em 2011, a maior fonte do fluxo de buscas pela palavra design no Google não era Botswana, mas outro país. Entretanto, em 2012, Botswana liderava o placar e em 2013 a liderança ficava ainda mais evidente.
Bem, no final acabei não descobrindo se a ideia do tal "Design Sofisticado" é uma tendência crescente ou não, mas de qualquer forma descobri uma manifestação de um fenômeno súbito em relação ao tema Design e pude testar o uso de algumas ferramentas. Ao mesmo tempo, fico feliz em perceber que algumas iniciativas impactantes estejam reunindo conhecimento acadêmico na busca de soluções para um dos maiores problemas do mundo: a miséria.
(*) http://www.google.com/trends/explore#q=design&date=1%2F2012%2012m&cmpt=q
(*) http://www.google.com/trends/explore#q=design&date=1%2F2012%2012m&cmpt=q
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